quinta-feira, 18 de março de 2010

Código de Conduta x V de Vingança: Reações provocadas por um sistema corrupto

A sociedade, através do cinema, sempre consagrou histórias em que um bem triunfa sobre um mal. Não raro, encontram-se enredos que fazem despertar certo senso de justiça, de forma que circunstâncias levam pessoas de boa índole a se transformarem em executores da justiça com as próprias mãos. Em termos de semântica, essa tal justiça exercida de modos informais e vinda de um cidadão que não está oficialmente qualificado para tal pode ser concebida de outra forma: Vingança.
Os filmes tratam de formas distintas as falhas do sistema estatal em proteger o cidadão e seu bem estar, assim como as distintas escolhas de como agir para obter justiça. Em Código de Conduta, Clyde perde a mulher e filha assassinadas, e o assassino pega uma pena leve devido a um acordo que faz com o promotor de justiça para denunciar seu parceiro, cúmplice de assaltos. A partir daí, o então incrédulo protagonista se volta contra o sistema judiciário. Entretanto, sua vingança extrapola qualquer nível moral, a ponto de se tornar desumana e desproporcional, mostrando que, se um extremo, no caso, a “justiça”, como aplicação da lei, exercida pelo promotor é ineficaz, o outro extremo da “justiça” (pelas próprias mãos) de Clyde também é. A partir daí, o “herói” toma o lugar do estado e se torna um opressor.
Já em V de Vingança, V é uma pessoa que foi torturada e usada como cobaia em experimentos apoiados pelo governo e ainda assim é altamente consciente da repressão que o povo sofre pelo Estado, um modelo totalitário cujo partido não respeita os direitos do povo, em especial a liberdade. A despeito dos seus atos de impiedade contra aqueles que foram responsáveis pelo seu infortúnio, V tem uma causa maior do que a sua vingança pessoal; ele se volta contra os opressores da sua nação, da liberdade que ele ama, e isso, para ele, justifica seus atos, fazendo dele um herói pela população.
Podemos perceber que nenhuma das condutas era protegida pela lei, que é uma das vertentes da justiça atual, e deram margem ao ilícito. Questiona-se então, até onde pode alguém chegar em nome da justiça. Atualmente, é bem clara a concepção de que o Direito nem sempre faz o justo, pois sua função é seguir a lei. Portanto, é essencial saber até onde se deve chegar para que seja feito o justo. Para haver mais justiça, é essencial lembrar-se de que ela nunca estará nos extremos, que podemos conceber atualmente como o Direito, altamente paternalista, e a vingança, ato que leva em consideração os próprios preconceitos e é movida por uma intolerância nascida de dores pessoais. Percebe-se, então, que a justiça encontra-se entre a vingança e o direito, estando sempre bem próxima de ambos; às vezes tão próxima que não é possível diferenciá-los. Dessa forma, fica em questão se o promotor de Código de Conduta estaria certo ou errado ao idealizar que “um pouco de justiça é melhor do que justiça nenhuma”, uma vez que, para conseguir certa justiça, alguma impunidade, seja de acordo com a lei, seja de acordo com a moral própria, ocorrerá.

Um comentário:

  1. Parabéns Sam, muito bem colocado...Estamos tão carentes de justiça que nos vemos numa situação de estar "torcendo" mesmo que em filmes por vilões disfarçados de heróis. No filme "Paparazzi" torci mesmo pelo pseudo mocinho que perdeu sua familia(esposa e filhos) por causa de profissionais sem escrúpulos. Precisamos sim acreditar na justiça e em vcs jovens advogados para que mudem a estória da nossa justiça...Parabéns a vc e todos os jovens que tem esse ideal...

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