A vingança, a meu ver, é o impulso de fazer justiça com as próprias mãos. Esse tema pode ser bem representado pela Medéia de Eurípides. Em síntese, a peça retrata uma historia de amor e ódio, onde Medéia, feiticeira e conhecida em toda a Grécia pelos seus poderes, se casa com Jasão, que posteriormente a abandona com seus dois filhos para se casar com a filha do rei Creontes. Se sentindo humilhada Medéia trama uma vingança contra Jasão matando seus filhos imaginando que a maior vingança a ser feita contra um homem seria tirar os seus descendentes.
A necessidade de agir e tomar alguma atitude para amenizar os sentimentos de ódio e rancor, fazendo com que o outro lado experimente esse sentimento é o que estimula a vingança. Acredito que essa impulsão do “olho por olho”, trazendo o sofrimento da outra pessoa se tornou um pouco distante na modernidade, não que tenha sumido, somente passou a dar lugar ao “fazer justiça com as próprias mãos”. Os seres humanos pouco mudaram, mas a vida em sociedade sim evoluiu muito, e foi preciso criar meios de aplacar o ódio e desejos de vingança, substituindo-os por intervenção técnica, equilibrada e isenta do Estado. Desta forma, o que se convenciona crime é punido pela sociedade inteira, que, assim, educa, controla e evita o afloramento dos aspectos menos evoluídos de cada um de nós.
A definição de justiça é algo muito subjetivo, ganhando sentido diverso a cada caso que é aplicada, sendo seu conceito dependente dos valores e princípios de cada indivíduo. A justiça é muito utilizada no direito na busca de regular as relações humanas, sendo forma de legitimar o exercício do poder. Definir tal conceito foi tarefa para vários filósofos e escritores. A justiça escrevia Epicuro, “não é algo em si: ela é apenas, nas reuniões dos homens entre si, quaisquer que sejam seu volume e seu lugar, um certo contrato tendo em vista não causar mal e do mal não ser vítima”. “O contrato agora, passou a ser regra, e não o que originou o Estado, sendo o princípio básico para sua fundação” segundo Kant. Em Platão não encontramos uma definição certa de justiça, o que mostra a grande dificuldade de “desvendar” esse tema. Quando estaremos sendo justos e quando estaremos sendo vingativos? Como atividade humana, o direito está sempre transitando pela fina borda que separa a justiça da vingança.
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