Inicialmente, cabe destacar o significado etimológico (do grego étymos: verdadeiro significado de uma palavra) de justiça e vingança. Justiça vem do étimo latino justitia e de acordo com Ulpiano sigifica: a vontade firme e permanente de dar a cada um o seu direito (justitia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuere). Enquanto vingança vem do verbo vingar, cuja origem latina consiste em vindicare, ato de retribuir, castigar pelo mal causado, ou seja, retaliação em resposta a um ato lesivo sofrido.
A partir da conceituação de tais palavras, verifica-se que elas não são sinônimas (óbvio) nem antônimas. Contudo, percebe-se que constantemente elas são confundidas, e até mesmo equiparadas. Para ilustrar vou contar um caso.
"Uma vez, quando estava em um ônibus, um homem entrou e disse que queria a ajuda de todos, pois estava sem emprego e blábláblá… Mas antes disse que queria contar a sua história. Contou que há alguns anos, um garoto havia estuprado a sua filha e que ele, com ódio do rapaz, o matou. E por isso, por querer vingança, havia sido preso. Na cadeia foi abusado, assim como sua filha e contraiu AIDS. Depois que saiu da prisão, todos que se diziam seus amigos e família o abandonaram, e ele virou morador de rua. "
Após ouvir essa história comecei a pensar , o que deveríamos esperar dessa pessoa? Ele, por vingança, matou o homem que estuprou sua filha, foi para a cadeia, lugar onde, "em tese" deveria ser ressocializado, entretudo, foi tratado da pior maneira possível.
Isso nos leva a uma conclusão, o senso de justiça exige que façamos algo em uma situação dessas, como se fosse um desejo de vingança. As leis e a punição são criadas para que não aconteça esse ciclo interminável de vinganças, mas como pôr fim a isso se das cadeias as pessoas saem pior, poucos são os que realmente se arrependem e tentam reconstruir a vida de forma digna. Sendo que estes, ao saírem enfrentam ainda dificuldades para arranjar emprego e se re-inserirem na sociedade.
Segundo Santo Agostinho, na passagem "O furto das pêras", o homem é essencialmente mal. Por outro lado, Sócrates afirma: "é melhor sofrer o mal do que fazer o mal". Todavia, quando somos nós que sofremos o mal, a vontade que temos assemelha-se a conclusão de Santo Agostinho, que somos maus, vez que o que queremos é imputar ao autor todo o sofrimento que ele causou, ou seja, vingança, ou seria... justiça?
A sociedade ideal seria aquela em que não hovesse nenhum tipo de mal, haja vista que sofrê-lo ou cometê-lo são igualmente ruins. Contudo, tal sociedade é impossível, pode-se dizer utópica. Deste modo, que nos resta fazer é tentar evitar o mal, mas não da forma que é feito atualmente, pois percebe-se que a violência aumenta a cada dia, contribuindo para esse ciclo sem fim de violência e vingança.
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